Venâncio Mondlane: “A revolução não morreu, está latente”

 



A Revolução Latente de Venâncio Mondlane

Venâncio Mondlane, uma figura central na política moçambicana, emergiu como o rosto de uma revolução que, segundo ele, "não morreu, está latente". Esta frase, proferida em entrevista ao Observador, resume a essência do seu movimento: um clamor por mudança num país marcado por décadas de governação da FRELIMO, acusado de irregularidades eleitorais e repressão. A sua mensagem ressoa especialmente entre os jovens, que veem em Mondlane, ou "VM7", um símbolo de esperança contra um sistema político que consideram opressivo e injusto.

O Contexto da Revolução

Moçambique vive um período de tensão política desde as eleições gerais de 9 de outubro de 2024, que declararam Daniel Chapo, da FRELIMO, como vencedor com 65,17% dos votos. Mondlane, apoiado pelo partido PODEMOS, rejeitou os resultados, alegando fraudes eleitorais, e liderou protestos que resultaram em cerca de 300 mortes, mais de 500 feridos e milhares de detenções. Ele compara o movimento ao 25 de Abril português, defendendo uma revolução sem armas, mas com a força da unidade popular.

"As pessoas protestaram porque sentem que existe em Moçambique défice de respeito pelos direitos humanos, uma democracia ainda muito doente e debilitada, problemas sérios de desenvolvimento humano. E estas questões ainda não tiveram resposta. Enquanto não a tiverem, a revolução continua latente."

Mondlane não aceita a legitimidade do Conselho Constitucional, que validou os resultados eleitorais, e insiste que a luta transcende a disputa pelos votos. Para ele, é uma questão de justiça, verdade e transformação estrutural do sistema político moçambicano.

Quem é Venâncio Mondlane?

Nascido em 17 de janeiro de 1974, em Lichinga, Niassa, Venâncio António Bila Mondlane é engenheiro florestal, pastor evangélico e político. Antes de se tornar uma figura nacional, liderou o movimento "Jovens Solidários" durante as cheias de 2000 em Maputo e trabalhou como analista financeiro no Millennium bim. A sua trajetória política começou no Movimento Democrático de Moçambique (MDM), passou pela RENAMO e culminou na candidatura presidencial pelo PODEMOS em 2024.

Conhecido pela retórica carismática e pela forte presença nas redes sociais, onde as suas lives alcançam números recordes de visualizações, Mondlane galvaniza multidões com um discurso que combina fervor religioso, nacionalismo e apelos à resistência pacífica. Ele próprio se autoproclamou "Presidente do Povo" ao regressar a Maputo em janeiro de 2025, desafiando o regime e prometendo continuar a luta, mesmo sob ameaça de prisão ou assassinato.

A Revolução Azul e o Futuro

Mondlane é o rosto da chamada "Revolução Azul", um movimento que exige transparência eleitoral, justiça social e o fim do domínio da FRELIMO, que governa desde a independência em 1975. Apesar de ter suspendido protestos temporariamente, ele anunciou fases como a "Ponta de Lança", indicando uma escalada na contestação. A sua popularidade, especialmente entre os jovens, reflete a frustração com a estagnação económica, a repressão policial e a falta de oportunidades.

No entanto, o caminho de Mondlane não está isento de críticas. Alguns setores da sociedade, afetados pelas paralisações e pela crise económica, começam a questionar a continuidade dos protestos. Além disso, a sua relação com o PODEMOS enfrentou tensões, com acusações de traição por parte do líder do partido, Albino Forquilha, embora tentativas de reconciliação estejam em curso.

Um Chamado à Ação

A frase "a revolução não morreu, está latente" é mais do que um slogan; é um apelo à perseverança. Mondlane acredita que a mudança é inevitável, mas exige sacrifício e união. Ele desafia as autoridades, afirmando estar disposto a enfrentar a prisão ou até a morte pela causa. A sua coragem, ou radicalismo, como alguns o chamam, colocou-o no centro de um movimento que pode redefinir o futuro de Moçambique.

"Se me prenderem, fazem-me um favor a mim e à revolução."

Resta saber se a "Revolução Azul" se consolidará como uma força de transformação ou se esgotará sob o peso da repressão e da paciência do povo, como alerta o bloguista Ivanick Lopandza. Enquanto isso, Mondlane continua a ser uma figura polarizadora: herói para uns, ameaça para outros, mas inegavelmente um catalisador de mudança num país em ebulição.

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